domingo, 8 de fevereiro de 2015

Edifício Joelma e Espiritismo.

O incêndio do Edifício Joelma é bastante conhecido dos brasileiros, e provavelmente do resto do mundo também. A tragédia foi de grandes proporções. Ainda mais que mesmo sendo um prédio comercial, o incêndio começou quando as pessoas já estavam trabalhando ali. Isso resultou em mais de 100 mortes, e mais umas centenas de feridos. Muito triste.

Até aí eu já tinha conhecimento, mas hoje vendo as minhas sugestões do YouTube, deparei com um documentário sobre a tragédia, a produção ficou a cargo do programa Linha Direta da Globo. Acabei abrindo pra ver. Afinal eu gosto ver o que tem a ser dito sobre o assunto. Mas diferente de ver algo como explicação técnica do acidente, como as pessoas receberam o impacto da notícia, ou seja, qualquer tipo de informação que verdadeiramente acrescenta algo pra compreensão do impacto do evento.

Fiquei surpresa ao ver que o documentário acabou virando uma narrativa sobre maldições. Sim, maldições. 

A narrativa começa contando a história da casa que ficava no terreno antes, conta que havia um professor que morava na casa junto com a mãe e duas irmãs, esse professor acabou matando a mãe e as irmãs, atacado pela culpa se matou. Isso foi contado provavelmente pra explicar que ali já havia energias negativas. Depois a escolha das pessoas que dariam os depoimentos, uma mãe espírita de uma das vítimas fatais, uma monja budista, um radiestesista, um editor de jornal espírita, e um neurocientista, este, uma voz solitária de racionalidade. Humm!! Já ia esquecendo, um funcionário de um cemitério também participou.

Vou mostrar o que estariam fazendo essas pessoas no documentário.


O funcionário do cemitério se liga à essa história por causa de 13 vítimas nunca identificadas, essas 13 pessoas cometeram o erro de correr pro elevador, não sei se naquela época já havia instruções de não pegar elevador nesses casos, mas provavelmente entraram no elevador deixando pra trás documentação, pertences, e consequentemente suas histórias. No cemitério foram todos enterrados em túmulos anônimos lado a lado. O funcionário conta que ele costumava ouvir gritos, que eram acalmados no momento que ele jogava água nos túmulos, hoje pessoas fazem visitas e pedidos que juram ser atendidos.

A mãe espírita serviu pra contar a história dos encontros espirituais com a filha morta, que ela conversa com ela, e pra mostrar um evolvimento do Chico Xavier no evento, mais uma vez ele psicografou uma carta dessa moça, a Volquimar ( que nome pra se dar a uma filha), e pela 4ª vez eu vejo alguém psicografado tratar a mãe como "mamãezinha querida". Sei não, acho artificial esse tipo de tratamento, mas o fato é que esse foi o ponto alto do sensacionalismo do caso. Uma vez que onde estão as outras histórias? Então, fica claro que essa história é a que mais vende. 


O radiestesista, o editor da revista espírita, a monja budista fizeram depoimento pra explicar a natureza espiritual de todo o evento. Ou seja, praticamente transformaram numa espécie de Amityville brasileiro, e houve alegação que as vítimas já estiveram envolvidas na Inquisição na reencarnação passada, como assim? Então as pessoas sofrem numa vida, e continuam sofrendo em outras, acho bastante perverso esse tipo de raciocínio. 


Apesar do neurocientista ter dado umas boas pinceladas de ceticismo nessa história toda, duvido que a média das pessoas que assistiram a esse documentário deram bola pro que ele disse. É provável que um Chico Xavier tenha mais "valor" do que um cientista. Ainda estou verdadeiramente surpresa de conhecer essas histórias.

Quem quiser pode ver o documentário nesse link (https://www.youtube.com/watch?v=fD3zrjCaqoc)

Gostaria muito que esse texto pudesse gerar um debate sobre o caso, e que outras pessoas escrevam sobre isso. Ou quem sabe alguns vídeos.


2 comentários:

  1. A Globo dá o que as pessoas querem: uma 'explicação' espírita do problema.

    Longe de debater sobre segurança, sobre os prédios paulistanos e seus problemas de desenho versus aglomeraçào urbana, a falada emissora se preocupou em deixar que o condutor fizesse ma leitura emocional e bastante vaga sobre o ocorrido, para aumentar a emoção e cegar a razão.

    Mas é o que o público pede.

    Ontem vi 'An honest liar', a história de James Randi, desde seu começo como mago e prestidigitador e sua carreira desmascarando 'sensitivos' que na verdade usam truques de magia. No final de uma longa carreira de 'debunker', os falsos prefatas acabam voltando porque a imensa maioria assim o quer.

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    1. Então, é isso que eu penso, ainda mais que sendo um programa ligado a questão criminal, deveria focar mais nessa questão da segurança mesmo, e como as coisas caíram nesses acontecimentos. Mas as pessoas querem sensacionalismo. Sinceramente é lamentável.

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